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01/02/2018

Como a vida funciona

O que são Funções Executivas, cujo desenvolvimento começa desde o nascimento e influencia diretamente o potencial cognitivo e socioemocional de uma pessoa.

Elas estão presentes em quase todas as atividades do dia a dia, desde os primeiros anos de vida. Quando uma criança aprende a contar de um a dez, quando brinca de “estátua”, quando participa de uma cantiga de roda junto aos colegas – mesmo quando parece não estar fazendo nada além de ouvir a professora contar uma história, ela está exercitando habilidades fundamentais, que aplicará ao longo de toda a vida, de forma cada vez mais sofisticada. São as chamadas Funções Executivas.

O termo refere-se ao conjunto de processos cognitivos e metacognitivos que permitem ao indivíduo ter controle, consciente e deliberado, sobre suas ações,
pensamentos e emoções. A maioria das pessoas realiza tais processos quase sem se dar conta. Somos capazes de pensar antes de agir, planejando e executando ações das mais corriqueiras, como amarrar os sapatos, às mais
complexas, como dirigir um veículo. Podemos focar nossa atenção em uma tarefa, filtrando possíveis distrações, assim como podemos executar mais de uma tarefa simultaneamente. A todo momento, recebemos novas informações e estímulos do mundo, armazenando-os, processando-os ou descartando-os de acordo com nossos interesses e objetivos imediatos. Na maior parte do tempo, sabemos controlar nossos impulsos e adequar
nosso comportamento a diferentes circunstâncias.

Que tais habilidades aflorem e tenham seu período sensível de desenvolvimento entre 0 e 6 anos de idade é o que torna o ambiente pré-escolar tão crítico para a formação integral do indivíduo.

“Os estudos recentes sobre as Funções Executivas recomendam aproveitar a plasticidade cerebral característica da primeira infância”, diz a diretora do Colégio AB Sabin, Mônica Mazzo, referindo-se ao fato de que essas habilidades estão diretamente ligadas a regiões do cérebro – especialmente, o córtex pré-frontal – cuja arquitetura básica é construída nessa fase da vida, a depender dos estímulos recebidos. “Quanto mais exercitarmos as Funções Executivas na Educação Infantil”, diz Mônica, “mais elas sairão fortalecidas, servindo de base para o desenvolvimento de processos cognitivos e socioemocionais mais complexos nos anos seguintes”.

Como explica a diretora, o que hoje é a capacidade de contar, brincar ou ouvir uma história, amanhã será a capacidade de compreender textos, fazer cálculos, organizar-se por conta própria, definir prioridades, elaborar experimentos, solucionar problemas, corrigir erros, construir relações interpessoais saudáveis, manter o equilíbrio emocional, etc. E é fundamental que o educador dos anos iniciais tenha isso em mente, não apenas para promover um ambiente estimulante, mas para identificar cedo quaisquer sinais de problemas.

Segundo os especialistas, as Funções Executivas se manifestam em três dimensões distintas, mas interligadas. São elas: a memória de trabalho, o controle inibitório e a flexibilidade cognitiva.

Em linhas gerais, a memória de trabalho é a capacidade de reter informações (verbais e não verbais) e relacioná-las com outros conhecimentos prévios, durante o tempo necessário para a realização de uma ou mais atividades. Para
compreender um texto, uma criança precisa ter em mente o que acabou de ler (ou o que a professora acabou de ler para ela). Para fazer duas coisas ao mesmo tempo – como pular corda e contar os saltos –, é preciso não esquecer
nem de pular na hora certa, nem do ponto em que se está na sequência numérica.

O controle inibitório, por sua vez, diz respeito à capacidade de filtrar tudo o que não contribuir para os propósitos da atividade. Trata-se de ter controle sobre os próprios pensamentos e comportamento – por exemplo, concentrando-se apenas em acompanhar a música na roda, ou permanecendo calado enquanto não for a sua vez de falar na aula – e também de conseguir conter as próprias emoções, como a impaciência, a excitação
ou a frustração.

Já a flexibilidade cognitiva se refere à capacidade de se adaptar às circunstâncias, de “mudar de marcha” na forma de pensar ou de se comportar. É o que ocorre, por exemplo, quando uma criança aprende que as regras de conduta na biblioteca são diferentes das regras no pátio da escola, quando percebe que tem de falar em outro idioma com a professora de Inglês ou quando descobre que precisa rever sua estratégia para vencer um jogo.

De acordo com Mônica Mazzo, todo o planejamento pedagógico do AB Sabin e do Sabin contempla as três dimensões do funcionamento executivo, criando situações que promovem as habilidades fundamentais. E, o que é essencial, a todo momento as professoras estão atentas a como cada criança responde aos estímulos para, ao sinal de dificuldades persistentes, disparar o alerta. “Se algo parece fora do eixo, passamos a observar o aluno mais de perto”, diz ela.

“A depender de cada caso, podemos conversar com a família e orientá-la na conduta, sugerindo intervenções necessárias ao desenvolvimento da criança”. Para a diretora, tais intervenções precoces podem evitar dificuldades maiores, já que a criança pode estagnar em seu desenvolvimento.

Na maioria dos casos, porém, Mônica garante que não se chega a tanto. “Temos o conhecimento, o olhar e os ambientes propícios para estimular as Funções Executivas e acolher, acompanhar e mediar nossos alunos nas múltiplas instâncias, formais e informais, do processo de aprendizagem”.

Algumas habilidades fundamentais que acompanham o crescimento de uma criança com bom funcionamento executivo:

Memória de Trabalho
• Organizar ou recontar uma narrativa com a cronologia correta dos eventos;
• Seguir instruções de tarefas com uma ou mais etapas;
• Manter em mente informações recém-ouvidas ou lidas para aplicá-las a uma meta;
• Fazer cálculos matemáticos mentalmente.

Controle Inibitório
• Esperar a vez de falar, sem interromper interlocutores;
• Pensar antes de falar ou agir, considerar alternativas e controlar impulsos;
• Manter a concentração e o foco em uma ou mais tarefas;
• Controlar a intensidade de emoções como raiva, tristeza ou frustração.

Flexibilidade Cognitiva
• Lidar bem com mudanças de planos ou rotina;
• Resolver problemas com criatividade;
• Mudar de estratégias para resolver problemas;
• Ser capaz de se desapegar de detalhes e pensar no todo.

Fonte: Revista NeuroEducação, nº 9 (mar. 2017).