Grupo vencedor do Impacta Sabin promove a leitura em locais carentes de livros.
Livros e sucata. Juntando coisas que a princípio parecem não combinar, um grupo de alunos do 6º ano foi o grande vencedor do Prêmio Impacta Sabin. Bernardo Napolitano, Leonardo Jun, Pedro Rocha e Rafael Romano idealizaram a Biblioteca Social Colaborativa: geladeiras que iriam para o ferro-velho ganharam vida nova como bibliotecas de até 500 livros, doadas para instituições que delas precisam.
“Logo que anunciaram o Prêmio, formamos o grupo e começamos a trabalhar. A gente se esforçou muito para dar certo”, diz Bernardo Napolitano. O ponto de partida dos garotos foi uma pesquisa de problemas sociais ou ambientais em torno dos quais poderiam elaborar um projeto de impacto. O tema escolhido por eles é, infelizmente, bem conhecido: o baixo índice de leitura no País. Pesquisa encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope, em 2016, mostra que o brasileiro lê somente 4,96 livros por ano e que 30% da população nunca comprou um livro. “Daí pensamos em um projeto que conscientizasse as pessoas da importância da leitura”, lembra Bernardo.
O projeto de uma biblioteca para atender pessoas carentes de livros começou a ganhar corpo. De saída, os meninos pensaram numa estrutura de prateleiras de madeira. “Mas a gente achou frágil”, diz Bernardo. O pai dele se lembrou, então, de um amigo, dono de uma fábrica de sorvetes, que talvez pudesse ajudar. Javier Humberto Becker se encantou com a ideia dos garotos e resolveu apoiá-la: além de doar dez geladeiras que seriam descartadas, comprometeu-se a entregá-las reformadas e prontas para receber os livros.
A biblioteca ganhou, dessa forma, o seu caráter sustentável. O recheio, os livros, foi conseguido por meio de doações de parentes e amigos. Os garotos também arrecadaram dinheiro para comprar exemplares novos. Decidiram, então, que a primeira Biblioteca Social Colaborativa poderia ser instalada na Escola Municipal de Ensino Fundamental Conde Luiz Eduardo Matarazzo, vizinha ao Sabin. E foram perguntar à direção da escola e aos seus alunos o que achavam da ideia.
Dessas conversas, ficou decidido que a geladeira seria instalada no pátio interno da escola, que não haveria um controle dos livros retirados e que a oferta de títulos seria adaptada ao gosto do público. Campeões de leitura adolescente como as séries Harry Potter e Diário de um Banana, por exemplo, constavam da lista de pedidos. A geladeira-biblioteca foi instalada no Conde em 7 de agosto.
Desde então, o que tem chamado a atenção de Daiane Cristini Moraes, diretora da escola municipal, é a reação de seus alunos ao fato de poderem dispor dos livros livremente. “Para eles, a ausência de controle é algo muito novo; poder levar o livro, emprestá-lo, trocar por outro, trazer um novo”, diz ela. Esse processo pode ser constatado na oferta atual dos títulos, muito diferente da época da inauguração. “O que mostra que a rotatividade é grande”, constata.
A segunda Biblioteca Social Colaborativa será entregue a uma escola estadual em Osasco. E a terceira vai para a comunidade Ilha de Deus, no Recife, que os meninos vão conhecer em janeiro como prêmio pelo primeiro lugar no Impacta Sabin. “Aposto que a viagem vai ser bem legal. Vamos conhecer uma realidade diferente da nossa e poder ajudar”, diz Bernardo.