Como promover os valores e o sentimento de comunidade que estão na base do mundo sustentável.
Você ajudaria a cuidar do jardim de uma praça pública? Regaria as plantas? Adubaria os vasos? Recolheria lixo jogado no chão por outra pessoa e cuidaria de descartá-lo em recipiente apropriado? Se responder sim a qualquer dessas perguntas, você demonstra ser uma pessoa que sabe como cuidar do meio ambiente. Você sabe o que deve ser feito: cultivar espaços verdes, dar um destino correto para resíduos, evitar desperdícios, etc. Se, além disso, você o faz por sentir que, em alguma medida, a responsabilidade também é sua, você demonstra trazer em si valores de sustentabilidade.
Esses valores estão na base da formação que a equipe do AB Sabin está recebendo, desde o início do ano, da empresa Reconectta, que assessora escolas no desenvolvimento de projetos de educação para a sustentabilidade. Serão 120 horas ao longo do ano, em que a Reconectta promoverá encontros de formação teórica com toda a equipe docente; assessorias por série, para ajudar as professoras a aplicar a teoria em atividades concretas; assessorias remotas via WhatsApp; e reuniões com a coordenação do Colégio, para avaliação do andamento do projeto.
Segundo a engenheira ambiental Livia Ribeiro, da Reconectta, a visão que a empresa ressalta é a da sustentabilidade primeiro como um campo de valores, depois de ações – e ações que não se limitam à questão ambiental. Queremos expandir a compreensão do conceito para abarcar valores humanos e fomentar relacionamentos saudáveis”, diz a engenheira. Por essa visão, se uma escola promove a ideia de que é dever de todos contribuir para a construção de boas relações no mundo – entre indivíduos, entre os seres humanos e a natureza, entre a geração atual e as gerações futuras –, o agir corretamente vem como consequência. Como exemplifica a coordenadora pedagógica do AB Sabin, Suzy Vieira: “A criança vê um papel de bala no chão e fica pessoalmente incomodada com aquilo. Passa por uma horta e, independentemente de tê-la plantado ou não, tem o impulso de cuidar”.
Para isso, um dos pontos-chave é o da integração: “Em várias escolas, são comuns atividades em que cada aluno ou turma plantam um vegetal e depois ficam querendo saber como está o canteiro deles, da sala deles”, diz Livia Ribeiro. “Mas se a escola promove o hábito de cuidar coletivamente, com turmas plantando juntas, fazendo escalas de rega, isso aumenta a consciência de que aquilo é de todos e não é de ninguém, além de estimular o respeito e a
cooperação entre as crianças”.
Os primeiros meses do ano já viram essa ideia se tornar realidade. Quem visita o pátio inferior do Colégio, hoje, pode ver uma horta vertical, com vasos pendurados em uma das paredes trazendo hortaliças comestíveis, como coentro, salsinha e cebolinha, além de um canteiro com uma horta de ervas medicinais. A primeira horta foi plantada pela turma do Integral; a segunda, pelo Maternal I. E ambas ganharam plaquinhas indicativas de cada espécie de planta, produzidas pelo Pré II. Enquanto isso, no bosque, pés de milho plantados pelo Integral e pelo Pré II hoje ultrapassam a altura das crianças, que acompanham com fascínio a evolução do milharal. Já para o segundo semestre, o plano é montar uma composteira, para a qual todos os alunos poderão contribuir colocando restos de lanche – e, no processo, aprender um pouco mais sobre alimentação, desperdício e reciclagem.
A ideia é que hortas, pés de milho, bosque ou composteira ainda tenham a função pedagógica de ilustrar conteúdos específicos, mas não sejam propriedade de nenhuma turma, mas sim de toda a comunidade escolar. “Vamos explorar mais e melhor o contato com a natureza”, diz a diretora pedagógica do AB Sabin, Mônica Mazzo. “Atividades de jardinagem não precisam se resumir ao plantio; podem envolver também observação e cuidado frequentes, conversas com o jardineiro para conhecer seus instrumentos, respeitar o seu saber”. Além, é claro, da colheita: “Um dia, vi uma aluna admirando um limão do nosso bosque. Eu falei: ‘Pode pegar’. Ela se espantou: ‘Posso?’ Claro que sim! Se ela viu o limoeiro crescer e dar fruto, se leva para casa e seus pais fazem suco, ela está levando mais que um limão, está levando uma vivência”, diz Mônica.
Mas não é só nos espaços verdes que se aprende sobre sustentabilidade. Pelos corredores e salas do AB Sabin, cartazes lembram como cada um pode contribuir para o mundo a partir de protagonismos simples, como apagar a luz da sala de aula, reutilizar copos descartáveis ou substituí-los por garrafinhas trazidas de casa (esta ação, aliás, trouxe resultados concretos, reduzindo o consumo mensal de copos de plástico no AB Sabin em aproximadamente 4 mil).
No Colégio Albert Sabin não é diferente. Também aqui os ensinamentos que promovem os valores de um mundo sustentável são trabalhados. E não apenas durante as aulas. “É um trabalho de formiguinha: a todo momento – em classe, na hora do lanche, no intervalo – estamos reforçando essas lições”, diz a assessora de Ciências Adriana Alonso, que ajuda a equipe a aproveitar oportunidades inesperadas. “Uma vez, uma aluna do Maternal arrancou uma flor para dar à professora. É um gesto de carinho que não podia ser repreendido, mas nos inspirou a elaborar uma aula em torno das flores do pátio. ‘Olha essas plantinhas no chão; estão mortas. Vamos tirar as sementes delas e plantar de novo para que nasçam outras?’
Uma hora, o “trabalho de formiguinha” termina compensando. “No Fundamental I, eu já vejo alguns alunos pegando do chão o lixo de outras pessoas”, diz a assessora.
Após certo momento, não é mais uma ação que a criança faz por obrigação, mas reflexo de uma cultura promovida por toda a comunidade. Porque, como explica Livia Ribeiro, da Reconectta, “quando a equipe de uma escola pensa e planeja junta, em vez de ficar cada professor criando planos isoladamente” – quando se alinham os comportamentos e discursos de todos em torno dos valores da sustentabilidade, enfim –, “isso se reflete nas crianças”.